19/10/2025

N-A-O-TIL

             Em 1975 eu tinha dezesseis anos e começava a dar meus primeiro passos em direção ao movimento estudantil. Estudante do Parobé, escola técnica federal que estava em processo de desmontagem pelo governo, eu era obrigado a fazer disciplinas do currículo do 2º grau no Colégio Júlio de Castilhos, o popular Julinho. Era uma espécie de “mistão”: currículo da área técnica (eletrotécnica) no Parobé e currículo geral no Julinho.

Naqueles tempos difíceis uns guris malucos que frequentavam o Bom Fim fundaram um fanzine e botaram o nome de N-A-O-TIL (ou NÃO). Fanzine é uma espécie de jornal caseiro, artesanal, febre nos anos 70 e 80. É uma publicação independente e reproduz temas de tribos específicas. Seu conteúdo pode ser qualquer assunto: música, arte, cinema, quadrinhos, ficção e engajamento social. Fanzine vem do inglês fanatic magazine, ou revista de fãs.

Bem, os guris que fundaram o N-A-O-TIL cresceram e tornaram-se vanguarda em tudo o que fizeram na vida. Não se poderia esperar outra coisa de gente como Giba Assis Brasil, Ricardo Cordeiro, Carlos Gerbase e Heron Hugo Heinz. E o fanzine feito à caneta hidrocor e colagens de recortes, que nunca obedeceu padrões técnicos, influenciou e ajudou muita gente a pensar. Com a chegada no mundo internet o N-A-O-TIL transformou-se num fanzine virtual e adaptou-se à nova linguagem.

Estes caras não tem ideia de quanto contribuíram para que gente como eu fosse buscar o caminho para encher a cabeça de ideias criativas, que mudaram o rumo da própria vida, e se recusaram a viver no padrão estético empacotado. Minha Vó Maria dizia que isto se chama boas companhias, boas influências.

Bem, o N-A-O-TIL está completando 50 anos, neste ano. Dia destes eu ouvi no rádio do carro, o pensamento de um filósofo que dizia “se um for um jovem idiota, serei um adulto idiota”. Eu acrescentaria que “quem tem boas companhias e boas influências na juventude, não será um velho idiota”.

20/09/2025

Dia do Gaúcho

Hoje é 20 de Setembro. Todos os anos eu faço aquela brincadeira maldosa de "comemorar a rendição". Este ano, além de "comemorar a rendição" decidi apresentar meus Top3 da arte gaúcha: Romance do injustiçado, na voz do Darcy Fagundes; Milonga debaixo de mau tempo, com Walther Morais e Retorno Bravo, com interpretação de Ubirajara Raffo Constant.









 

17/09/2025

Afundamento do navio Baependi (Baependy) do Lloyd Brasileiro

Morreu meu tio-avô, Joaquim Azambuja Leão

Brasil começa a entrar na 2ªGuerra Mundial

O mês de agosto de 1942 seria o mais trágico na história da marinha mercante brasileira: durante a guerra, nada menos que cinco navios foram torpedeados e afundados na costa brasileira, entre Sergipe e Bahia, pelo mesmo submarino nazista, o U-507, sob o comandado do capitão Harro Schacht. Em 72 horas, foram vitimadas 607 pessoas, entre tripulantes e passageiros, lamentando-se a morte de mulheres e crianças, inclusive de colo. Em 15 de agosto foram atacados dois navios de passageiros: o Baependi, do Lloyd Brasileiro, e o Araraquara, da Companhia Nacional de Navegação Costeira. No primeiro eram transportados 63 tripulantes e 233 passageiros, no naufrágio da embarcação morreram 55 tripulantes e 215 passageiros. Foi a maior tragédia em número de vítimas envolvendo um navio brasileiro. No segundo, foram vitimados fatalmente 66 tripulantes e 65 passageiros. Sobreviveram apenas oito tripulantes e três passageiros. No dia seguinte, 16, o navio Aníbal Benévolo, também do Lloyd Brasileiro, afundou matando 67 tripulantes de uma guarnição de 71 homens, e todos os 83 passageiros.

Em 17 de agosto, mais duas embarcações foram atacadas pelo submarino nazista U-507, o Itagiba, da Companhia Nacional de Navegação Costeira, e o cargueiro Arará, da Companhia Serras de Navegação Comercial. O navio da Costeira transportava 121 passageiros, incluindo soldados do 7º Grupo de Artilharia de Dorso, e tinha uma tripulação de 60 homens. Desses, 10 tripulantes e 26 passageiros morreram no ataque. A embarcação afundou em dez minutos. O Arará, quando socorria os náufragos do Itagiba, foi covardemente atacado pelo U-507, perecendo 20 dos 35 tripulantes.

O U-507 faria mais uma vítima no dia 19 de agosto: a barcaça Jacira foi afundada a tiros de canhão, a 10 milhas da barra de Itacaré, no sul da Bahia. Seus cinco tripulantes e o único passageiro conseguiram se salvar.

O merecido fim do U-507 ocorreu quando foi afundado no dia 13 de janeiro de 1943, no litoral do Ceará, por um avião Catalina norte-americano do Esquadrão VP-83, sediado na Base Aérea de Natal. Não houve sobreviventes de sua tripulação de 54 homens. Esse submarino, em seus 15 meses de operação, afundou e danificou 20 navios mercantes, totalizando 83.704 toneladas de arqueação afundadas.

Os ataques aos navios brasileiros em nossa costa provocaram indignação e revolta geral na população do país. Milhares de pessoas foram para as ruas de várias cidades para protestar contra os afundamentos e o ato covarde que resultou nas mortes de centenas de vítimas indefesas. No Rio de Janeiro ocorreram várias passeatas e comícios populares exigindo o revide por parte do governo federal. Instalações como bancos e empresas ligadas aos países do Eixo foram atacadas, e imigrantes e descendentes de alemães e italianos foram admoestados pela turba furiosa.

Fonte: Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

           Comunicação Social

 

Mais informações:

Site da Marinha do Brasil:

https://www.marinha.mil.br/dphdm/sites/www.marinha.mil.br.dphdm/files/BaependiNavioTransporte1924s.pdf

Livro ‘Operação Brasil’; Durval Lourenço Pereira

Segundo narrado no livro “Operação Brasil”, de Durval Lourenço Pereira, que traz informações do diário de bordo do submarino, mostra a ação de forma intensa.

Às sete da noite de 15 de agosto começou o ataque do U-507 ao navio brasileiro Baependi. Num primeiro momento, dois torpedos são disparados, mas erram. Entretanto o navio é lento e o comandante alemão, capitão Schacht, consegue reposicionar seu submarino, ultrapassando o barco brasileiro. As 19h12 abre fogo com outros dois torpedos e, rapidamente, o navio vai para o fundo do mar. No Baependi, sobrevivem apenas 36, dos seus 322 tripulantes e passageiros.

Interessante notar a seguinte cronologia:

15/08/1942, 19:00, o submarino alemão U-507 torpedeia a afunda o Baependi. No mesmo dia, também torpedeia e afunda o navio Araraquara.

16/08/1942, o U-507 afundou o navio Aníbal Benévolo.

17/08/1942, o mesmo submarino afunda o navio Itagiba e o cargueiro Arará,

19/08/1942, ainda o U-507, afunda a barcaça Jacira a tiros de canhão.

22/08/1942, Brasil declara guerra ao eixo.

16/09/1944, chega o primeiro contingente da Força Expedicionária Brasileira para combater na Itália.



Este marujo chama-se Joaquim de Azambuja Leão. Ele é meu tio-avô. A foto ele enviou para a mãe, Maria Piedade Azambuja Leão, no Natal de 1941. Ele era um excelente nadador, mas insuficiente para sobreviver naquela circunstância. Morreu no afundamento do Baependi. A família da minha avó materna tinha 14 filhos. Quatro deles morreram em função da 2ª Guerra Mundial. O Joaquim era marinheiro civil. Os outros três, José, Luiz e Hugo, militares da Força Expedicionária.